CIDADES INVISÍVEISNão me incomodo com quem não percebe as coisas além de uma única e fatídica dimensão, porque realmente, sem pensar, tudo parece ter um só lado, uma só forma. Logo, não me importo com a existência de seres não pensantes. De alguma forma, preciso deles.
Relutei em assistir tão já, o aclamado "
TROPA DE ELITE". Prefiro sempre esperar diminuirem as filas e os comentários. Mas eu senti algo muito estranho, a violência desgarrada parecia ter encontrado seu fundamento. As pessoas me diziam estarem aliviadas, confortadas com a existência dos anjos de negro.
Quando olhei a capa de uma revista com o símbolo da caveira cravada de facas... Me convenci do sinistro e fui ao cinema mais próximo.
O FILMENenhuma novidade, além da lida diariamente, em todos os jornais do país.
Nenhuma surpresa, fora das telas. O povo realmente não pensa em nada que lhes jogam na cara.
Então subir o morro, matar todo mundo envolvido no tráfico, garante a sonhada paz?
Resolve as estatísticas de miséria, a desigualdade social, o desemprego, a falta de saneamento, educação, saúde... Ahhh, mas claro: sem flagelados, não há flagelo. Sem germes, não há infecção.
A repressão em alta! Isso me preocupa.
Lunáticos e espartanos antibióticos combatem o tráfico, exterminam a massa de iletrados miseráveis, ambos armados até os dentes.
Ambos, acusam os consumidores de drogas, a "burguesia", os culpados por toda essa mazela social. Então o tráfico existe porque existe quem consome e não porque o produto é ilegal?
O mesmo povo, que não tem lado, que não tem
nada além de uma arma fria e um traseiro quente pra afundar a sete palmos de terra, diferindo pouco na escolha de seus vícios e pseudo-virtudes, vão continuar fazendo
você acreditar nisso?
E mais uma vez, seguem os cegos do castelo, aclamando seus partidos sórditos, que distribuem as camisetas que se mancharão de sangue, o derramado e jorrado morro abaixo... morro sem esgoto, sem escola, sem água limpa e energia... Porque será? Porque a burguesia drogada não paga imposto?
Ou porque nossos reis eleitos têm um poder divino e nunca dividiriam o pão com os reles mortais. Afinal, quem se doa em prol do bem comum?
E eu... dentro do hospital, tapo os furos das balas, perco noites de sono trazendo de volta a vida quem quer que apareça, fedendo, sangrando, morrendo ... sento-me nesta cadeira, em plena sexta-feira, pensando nessas velhas tragédias... me restam poucas opções para glória...
Acenderei meu cigarro e vou fazer aquele float no crítico, na falta de absinto!
Gracias a vida!