domingo, junho 29, 2008:
O que seria quente ou frio
se não tivesse tato?
O brilho e o opaco,
o rock ou o fado,
se cego e surdo fosse de fato?
Cheiro de ralo é perfume de rato,
Espalha, ocre estragado.
Broto de rosa, aroma raro,
só de perto, aguça o olfato.
Não tem idioma, o sussurro calado.
Não tem lógica, o delírio consumado.
Se entende
mesmo que não explicado,
o tão intenso,
que sentimos no ato.
Se estende
por tempo inexato,
ao ponto do corte lento,
quando o primeiro, olhar assustado.
Claudia "In Stereo" // 8:14 PM
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terça-feira, junho 24, 2008:
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
Claudia "In Stereo" // 3:33 PM
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