sexta-feira, agosto 31, 2007:








Se não fosse, se não existisse.




Por hora tenho a sensação de que tudo nesta vida,


os destinos, de certo modo já foram escritos,


vividos e mortos;


e a reedição do que já foi


é o nosso único e certeiro destino.


Nada do que faço ou penso


é inédito.


E se resolvo matar , e mato,


tantos outros já morreram


pelas mãos de outros,


que tiveram a mesma resolução.


Quando decido pensar


numa nova outra saída,


apenas vejo caminhos já trilhados,


e no momento em que vejo um novo,


é apenas um antigo


apagado pelo desuso:


perdão.




Se me calo, se falo,


se fico ou vou;


se nego, aceito ou me faço indiferente;


toda a minha ação ou inércia


é reprise de capítulos anteriores,


de tempos remotos,


da contínua mesmice histórica.




Asso um pão.


Ponho menos leite na massa


e acrescento mais sal


apenas por um ato de revolta,


apenas pelo ardente desejo


ansioso de querer ser diferente......


mas o pão não sai.


Quem nunca errou uma receita?!


Quem nunca falhou numa assertiva?!


Quem nunca ao invés de ser


apenas esteve,


ou foi ao invés se estar?!




Tão inútil é pensar em criar.


Não criamos a vida


visto que ela já existia


muito antes de pensarmos em pensar.


Tão inútil é sermos Sisifo em nós.


Ai destino selado,


por mais que sonhamos em ser original,


ai destino selado.


Ai angústia de mim


em mim aqui dentro.




E se olho uma mãe sem destino


com seu concepto imundo


à esmolar pelos cantos sórdidos...


A vejo e imagino outras tantas


que esmolaram e empobreceram,


esmolaram e morreram,


esmolaram e,não me lembro a vez,se resolveram.


Tantas tristezas, essas e outras,durante todos os tempos;


tantas idéias sociais, comunais...


E aquela mãe de há pouco,continua a mesma pedinte e pobre


a morrer provavelmente pelos milênios.


Sina de eterna miséria


terá a sua filha...




E de todas as aflições


que detenho como minhas,


minha agonia


de estar sem saber se me ama


ou se sou apenas mais um


na rota hedonista


que às vezes se constitui a vida


não passa;


como não passa


nenhuma das outras,


como não passa


a de ninguém que embarcou


nesta nau ou na próxima.




Tal compasso eterno,


em dois tempos,


um pensamento binário,


um tum e um tá,


um sim e um não,


quando muito um talvez,


me engessam com impiedosidade


pelos tempos.


Dia e noite,


acordar e dormir,


dormir e acordar.


Esse isso e aquilo,


quando muito


alguns outros horizontes,


sempre semi-novos,


se abrem tediosos.




Fatalismo de minha existência.


Sorte humana.


E por mais que me rebele,


a revolução não é mais nada


do que a transformação


para um status quo


outrora já vivido.




Todas as verdades,


que por vaidade


penso saber,


doem como chaga aberta


mexida e remexida


por mão carrasca.


Todas essas verdades


não são corretas,


não são falsas,


não são nada.




Ai ai ai...Se houvesse a remota


possibilidade de se retornar


ao início,


ao abismo


do qual me precipitei;


voltaria a ver o não ver,


sentiria em mim o pulsar


da vigorosa ignorância sobre todos os fatos,


do não reconhecer


o destino das coisas,do não saber


que se é humano


e que se tem por fado


reescrever o vivido destino


da condição inevitável


de se ser gente...


Assim poderia renascer cego


e enxergaria tudo


como um novo continente.


Assim poderia renascer surdo


e ouviria o Hino Nacional


sempre pela primeira vez.


Assim poderia renascer mudo


e declamaria essa poesia


e tudo, que é nada,fluiria suavemente...


poderia ser sem ter existido


e estar sem ter estado.




Poderia estar locado


em mundo diferente,


em um lugar de onde sequer


alma nenhuma existiu,


um lugar que não existe.


E se sou


e se estou


é apenas por falta completa de opção.




Pudesse eu não ser, pudesse eu não estar.




sandro dugnani

Claudia "In Stereo" // 1:31 PM

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